quinta-feira, 3 de dezembro de 2009




Nora Ney, a cantora das trágicas paixões que há no mundo, da dor-de-cotovelo, da fossa, dos “fracassados do amor”.
Com sua interpretação certeira, cantou a boemia, o preconceito, o amor e a mágoa e atingiu como ninguém o seu alvo: o coração daqueles que sofrem e que amam.

“Todo boêmio é feliz
porque quanto mais triste
mais se ilude.
Esse é o segredo de quem,
como eu, vive na boemia:
colocar no mesmo barco
realidade e poesia.
Rindo da própria agonia”

Nora Ney é a tristeza falada, recitada, amuada, daquele amor que dói lentamente, na medida em que se formam em sua boca as palavras.
“Ninguém me ama, ninguém me quer
Ninguém me chama de meu amor”
“Pela noite tão longa de fracasso em fracasso”
Pelos dias compridos de sucessos nas rádios.
Nora Ney, um facho de luz entre beijos, despedidas e abraços.
A eterna voz do amor cansado, machucado e inabalável.
O amor que sofre é o amor que não cala jamais.
É esse, o verdadeiro amor eterno.
Como é eterna Nora Ney, de cigarro em cigarro, com seus olhos de loucura pela música e pela poesia.
É por isso que dizemos seu nome, por isso que te procuramos.
A gente te ama, a gente te quer!

“Levar você de mim
É muito fácil
Difícil é fazer você feliz”
Nora Ney nos faz feliz, ao deixar em vida uma Obra-prima.

Raphael Vidigal Aroeira

Lido na Rádio Itatiaia dia 29/11/2009.




Dolores Duran, a cantora da noite do seu bem que viajou na “Aza do Vento” em busca da “Estrada do Sol”.
Dos 10 aos 29 anos cantou todas as línguas do amor.
O amor magoado.
O amor triste.
O amor que nunca desiste.
Todas as línguas da dor.
A dor do filho que não nasceu.
Do final feliz que não aconteceu.
Do amor eterno, que morreu.

“Eu não te amo por que quero
Se eu pudesse esqueceria
Vivo, e vivo só por que te espero
Esta amargura, esta agonia”

Dolores Duran é a primeira estrela que vier.
A rosa mais linda que houver.
É a voz dos corações abatidos e mal tratados.
Sonhadores e apaixonados.
Com sua voz sussurrada e triste, Dolores Duran representa as dores que duram mais que os sonhos e as canções.
A voz que sussurra ao coração seu desespero contido.

“Eu quero qualquer coisa verdadeira
Um amor, uma saudade, uma lágrima, um amigo”

Dolores Duran é a indiferença fria de “Fim de Caso” e a dor que queima de “Castigo”.
É o amor em cada gesto, em cada olhar.
É o amor que quer ser amado, aonde quer que ele vá.

“Meu lugar é aqui
Faz de conta que eu não saí”
Dolores Duran jamais sairá dos corações feridos.
Aqueles que nunca se dão por vencidos.
Por causa de você, Dolores Duran, o amor renasce a cada manhã.

“As flores na janela
Sorriam, cantavam
Por causa de você”
É por causa de Dolores Duran que os amores sofridos têm mais brilho.
E por causa dela, que junto com as flores na janela, cantamos e sorrimos!

Raphael Vidigal Aroeira

Lido na Rádio Itatiaia dia 22/11/2009.




Dalva de Oliveira, a Rainha do Rádio, da dor, do Trio de Ouro, da comédia e da tragédia do amor.
Sua voz emocionada e comprida procurava Deus, Ave Maria e os amores que perdeu.
Procurava as flores, a grande verdade e o segredo da vida.
Procurava bandeira branca para a guerra em que seu coração se envolveu.

“Eu, que lutei tanto contra a inveja e maldição,
Sinto essas mãos enfraquecidas a sangrar,
Que já não podem te apertar,
Foge de mim”

Dalva fugia da dor e a dor fugia de Dalva, mas como em um beco sem saída, acabavam se reencontrando na despedida.
A dor de Dalva é aquela dor aflita, que não suporta tamanho sofrimento e grita.
Uma dor tão grande que arranha os céus do “segundo andar” e afoga estrelas no mar.
A dor de não saber deixar de amar.
Dalva de Oliveira sempre amou.
Apesar do sofrimento.
Apesar do abandono.
Apesar da dor.
A dor fazia parte do seu amor.
“Tanto riso, oh quanta alegria
Mais de mil palhaços no salão
Arlequim está chorando
Pelo amor da Colombina
No meio da multidão”

Dalva de Oliveira, voz azul como o céu de estrelas, azul como o céu de nuves, azul como o céu da música brasileira.
“Pois quem mora lá no morro
Já vive pertinho do céu”
Dalva de Oliveira vive no céu e no coração dos que na Terra ainda sofrem pelo seu amor.
Amor que sangra.
Amor que grita.
Amor que supera as dores e desafios da vida.
Dalva de Oliveira, pra sempre nossa rainha!

Raphael Vidigal Aroeira

Lido na Rádio Itatiaia dia 15/11/2009.




Lupicínio Rodrigues nunca tocou nenhum instrumento musical, tocou simplesmente o mais musical de todos os instrumentos: o coração daqueles que choram pelo amor perdido.
Com os cotovelos apoiados no balcão derramou o whisky feito choro na canção e criou a dor-de-cotovelo, o samba-canção.
Cantou o remorso, a vingança, a loucura, o ódio e o amor.
O amor universal.
O amor comum a todos.
Aquele que nos faz sofrer e a gente continua amando.
Cantou a dor.
Uma dor agressiva que nos castiga sem piedade e com rancor.
A dor que bate pra se defender, pra tentar amenizar o sofrimento de apanhar do próprio amor.
“Naquele desespero
De perder o meu amor
Ofereci até um coração
Que não é meu”

Lupicínio Rodrigues canta os amores tristes.
Os amores que ninguém pode negar que existem.
Os amores de vida e de morte.
O amor que trai e o amor traído.
O amor da amizade.
Os bons sentimentos e a maldade.

“Agora você vai ouvir aquilo que merece
As coisas ficam muito boas quando a gente esquece”
Impossível esquecer Lupicínio.
Sua voz pequena era a plataforma para seu coração imenso, disposto a amar e a sofrer.
E ele sofreu todas as dores do amor.
Do lamento rancoroso de “Judiaria” ao amor além da vida de “Carlucia”.
Com voz mansa e coração feroz seguiu a profecia de Noel Rosa, que disse: “Esse garoto é bom! Esse garoto vai longe!”
E foi. Mostrou “que ainda existe o verdadeiro amor”, se sujeitou a ser sacrificado, a salvar o mundo com sua dor e voltar para casa brigando com seu coração.

“Para mim
Só existe um caminho a seguir
É fugir de ti, é fugir
Apesar de ser minha vontade te seguir
Meu dever amor, é fugir”
A dor que procurava Lupicínio era como colírio: que incomoda e traz alívio.
Era a dor que ele cantava para nos mostrar a imensidão do seu amor. Traído, machucado e sonhador.
Lupicínio sempre cantou a dor. A dor que sabemos de onde vem e não passa.
Sempre cantou o amor. O amor que não sabemos de onde vem, e não passa.
“Mas como é que a gente voa
Quando começa a pensar”
Pensar em Lupicínio Rodrigues, feliz poeta do amor triste.

Raphael Vidigal Aroeira

Lido na Rádio Itatiaia dia 8/11/2009.

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