terça-feira, 13 de julho de 2010




Sentado no meio de sua sala, com um copo de uísque na mão, cabelos longos, lisos e grisalhos, lá estava ele, rodeado por amigos que adoravam rir de suas piadas, cantar seus poemas, ouvir suas histórias de amor e tocar as músicas que eram feitas com suas letras. Amigos que sabiam que sem ele aquela comunhão não seria possível. Vinicius de Moraes chamava a todos por diminutivos, como prova de seu imenso carinho. O poetinha, como ficou conhecido por conta dessa carinhosa mania, era um reconhecido galanteador, um poeta indiscutível, um letrista que fazia do simples a obra de sua arte, um homem apaixonado que exaltou o amor a vida inteira. Exaltou as mulheres e as belezas brasileiras. Quem poderia dizer que aquele diplomata demitido pelo governo militar se tornaria um dos maiores poetas do nosso país? Quem poderia dizer que suas poesias se encaixariam com perfeição em melodias lapidadas por Tom Jobim, Chico Buarque, Carlos Lyra, Baden Powell, Francis Hime, Edu Lobo e principalmente Toquinho, o parceiro com quem mais compôs músicas? Quem seria capaz de dizer que aquele que mais propagou o amor na música e na literatura brasileira casaria-se nove vezes em circunstâncias e cerimônias cada vez mais inusitadas? Vinicius de Moraes era mesmo um homem surpreendente, que encontrou na bossa nova, na garota de Ipanema e na praia de Itapoã as paisagens perfeitas para sua poesia.



“Passar uma tarde em Itapoã
Ao sol que arde em Itapoã
Ouvindo o mar de Itapoã
Falar de amor em Itapoã”

Vinicius de Moraes chamava um de seus melhores amigos pelo apelido de “cachorro engarrafado”, era ao uísque que ele se referia. Vinicius de Moraes chamava a cidade de São Paulo de “túmulo do samba”. E Vinicius dizia que “mesmo o amor que não compensa” era “melhor que a solidão”. Porque Vinicius de Moraes era contra a solidão, e a sua casa sempre aberta era uma prova disso. Seu coração sempre disposto era outra prova disso. Sua poesia sempre inspirada e apaixonada é a maior e mais duradoura prova de todas. Rodeado por muitos amigos e muitos amores, Vinicius mantinha aquela expressão de menino procurando algo, sempre atrás de alguma coisa. Talvez tenha achado, talvez a tenha perdido, mas ele estava sempre procurando. O amor que residia na felicidade, ou a felicidade que residia no amor. Ninguém jamais professou o amor com tamanha ternura e delicadeza como Vinicius de Moraes.



“Se você quer ser minha namorada
Ai que linda namorada
Você poderia ser”

“Formosa, não faz assim
Carinho não é ruim
Mulher que nega, não sabe não
Tem uma coisa de menos no seu coração”

Chega de saudade, meu poeta Vinicius de Moraes, vamos celebrar juntos esses 30 anos em que o amor teve menos uísque mas não menos poesia. “É melhor ser alegre, que ser triste”. Que bom seria “se todos fossem iguais a você” Vinicius. Mas você é único, “posto que é chama, que seja eterno enquanto dure” e dure para sempre, como sua música, sua poesia, seus amores. Vinicius de Moraes, poetinha do amor imenso.

“Chega de saudade
A realidade é que
Sem ela não há paz,não há beleza
É só tristeza e a melancolia
Que não sai de mim, não sai de mim, não sai”



Raphael Vidigal Aroeira

Lido na Rádio Itatiaia dia 11/07/2010.

2 comentários:

Alessandra Rezende disse...

"Rodeado por muitos amigos e muitos amores, Vinicius mantinha aquela expressão de menino procurando algo, sempre atrás de alguma coisa. Talvez tenha achado, talvez a tenha perdido, mas ele estava sempre procurando. O amor que residia na felicidade, ou a felicidade que residia no amor".

Como sempre, vc é um doce com as palavras! Traz uma graciosidade enorme para a vida das pessoas de quem fala! Esplêndido!!! =D

André Figueiredo disse...

Poetinha grande!!
se soltava com seu amigo engarrafado...
Que saudade do Brasil!!
e vc zim, é mais um poetinha grande vindo por aí, escreve tão bem tudo que escreve.
Mais um excelente!

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