terça-feira, 26 de outubro de 2010




Nas palavras de Herivelto Martins, Grande Otelo tinha “mania de compositor”. O pequeno Sebastião Prata que nasceu em Uberlândia transformou-se num dos maiores atores cômicos do Brasil, e morreu como o inconfundível Grande Otelo no aeroporto de Paris, quando preparava-se para receber uma homenagem. Imortalizado na alma brasileira de Mário de Andrade, ao interpretar Macunaíma no cinema e receber o prêmio de melhor ator, Otelo também se destacou como cantor e compositor de grandes sambas.



Praça Onze

Em 1941, quando ficou sabendo da intenção da prefeitura de demolir a Praça Onze, abrigo dos desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro, Otelo indignou-se e escreveu versos românticos e tristonhos sobre o fato. Então levou a letra para músicos como Wilson Batista, Max Bulhões e Herivelto Martins, a fim de que a musicassem. Nenhum deles se interessou muito, mas o azar de Herivelto era que esse o via todo dia, pois os dois trocavam-se juntos no Cassino da Urca. Herivelto dizia que não cabia samba naquela letra, pois o que Otelo tinha escrito era um romance, com versos do quilate de “Oh Praça Onze, tu vais desaparecer”. Eis que devido à insistência diária do noviço compositor, Herivelto irritou-se e começou a cantar de improviso versos sambados, dizendo para o humorista: “O que você quer dizer é isso: vão acabar com a Praça Onze, não vai haver mais escola de samba, não vai...”, Otelo empolgou-se e começou a escrever ali mesmo os outros versos da canção, enquanto Herivelto tocava a melodia no violão. Quando ficou pronta, a música foi gravada pelo Trio de Ouro com a companhia de Castro Barbosa, e trouxe na execução uma novidade inventada por Herivelto e que fez grande sucesso entre os foliões, o uso do apito para dar ritmo. Todos que sentiam a perda da Praça cantaram e dançaram na avenida a música que dividiu o prêmio de melhor samba do ano de 1942 ao lado da clássica “Ai que saudades da Amélia”, de Ataulfo Alves e Mário Lago. Grande Otelo ria como fazia rir, apesar da tristeza pela perda da praça, ele conseguiu o que queria.



Bom dia, avenida
Grande Otelo aventurou-se pela primeira vez a ter “mania de compositor” no fim da década de 30, quando sua música “Vou pra orgia”, em parceria com Constantino Silva, foi gravada por Nuno Roland na Odeon. Em setembro daquele mesmo ano, atuou ao lado de Carmen Miranda no Cassino da Urca, naquele que seria o último show no Brasil da Pequena Notável. Após o sucesso do samba em parceria com Herivelto sobre a “Praça Onze”, Grande Otelo arriscou com êxito novamente sua veia musical. No ano de 1944 escreveu o que seria o complemento da história da praça. “Bom dia, avenida”, também composta com Herivelto, pedia licença às autoridades para que os sambistas pudessem ocupar com suas escolas a nova avenida Presidente Vargas, afinal eram eles que haviam construído a história da música naquele palco. O samba foi gravado pelo Trio de Ouro e o humorista pôde desfilar na avenida, com voz de tenorino, sua ópera brasileira.

Por mim, Rosa

Sem data definida, estipula-se que no final da década de 70 e início de 80, mais precisamente a partir de 1979, tenha sido quando Grande Otelo gravou dois sambas de sua autoria. O primeiro deles “Por mim, Rosa”, parceria com o compadre Herivelto Martins que fala sobre um divertido entrevero entre marido e mulher, com destaque para os improvisos sacados pelo humorista mineiro.



Chora trombone

A outra música gravada por Grande Otelo a partir do final da década de 70 foi uma parceria sua com Ary Cordovil. “Chora trombone” é uma bonita homenagem ao som do instrumento e o sentimento que ele desperta nos moradores, sambistas e chorões de Mangueira, que Grande Otelo canta com simplicidade, embora adote entonação alta no início da música, e sua habitual simpatia. As duas músicas foram lançadas pelo Projeto Vitrine que saiu por conta do Acervo Funarte da Música Brasileira, em 1997.

No tabuleiro da baiana

Grande Otelo cantou pela primeira vez o samba-batuque “No tabuleiro da baiana” em 1937, em um espetáculo da revista “Maravilhosa”, ao lado da cantora Déo Maia. Chamado para substituir Luís Barbosa, que estava enfermo com uma tuberculose, Otelo procurou Ary Barroso na Rádio Cruzeiro do Sul para ensaiar. Ao final do número, Ary vaticinou: “Você nunca vai cantar “No tabuleiro da baiana”. Você é muito desafinado!”. Otelo apresentou a música no Teatro Carlos Gomes e foi um grande sucesso. Segundo ele, “continuou desafinado” e cantando a música. Décadas depois, em 1981, no especial da TV Globo “Maria da Graça Costa Penna Burgos” cantou novamente o sucesso ao lado de Gal Costa. O resultado não poderia ser outro, muitos risos e boa música!



Boneca de Piche

Uma das músicas mais cantadas por Grande Otelo foi “Boneca de Piche”, de Luiz Iglésias e Ary Barroso. Em 1939, começou com Elizeth Cardoso a parceria que duraria quase dez anos. Em 1952, apresentou o samba ao lado da cantora e dançarina franco-americana Josephine Baker, no Cassino da Urca, em quadro intitulado ‘Casamento de Preto’, escrito por Luís Peixoto. Josephine inclusive cantou em português. Depois, a cantou em duetos inusitados com Virgínia Lane, Chico Anysio e Xuxa. Outra vez, entoou novamente os versos inspirados da canção ao lado da atriz Betty Faria, no programa da TV Globo, Brasil Pandeiro, em 1979.

Quem é?

Choro de Joraci Camargo e Custódio Mesquita cantado por Carmen Miranda e Barbosa Júnior em 1937, foi interpretado por Grande Otelo e a cantora carioca Sônia Santos 40anos depois, em um especial para a Rede Globo.



Grande Otelo canta Vinicius de Moraes – O Porquinho (infantil, 1981)

Em 1970, Vinicius de Moraes lançou um livro infantil baseado na trajetória bíblica da Arca de Noé. O livro conta a história dos animais que embarcaram na viagem chuvosa de 40 dias e 40 noites através de poemas bem humorados e singelos. Com o talento para manusear as palavras que ele tinha, a obra se transformou em especial da Rede Globo, exibido no dia das crianças do ano de 1980. As poesias foram musicadas por Toquinho, Tom Jobim, Paulo Soledade e outros amigos de Vinicius. E cantadas por Chico Buarque, Milton Nascimento, Elis Regina, Alceu Valença, Ney Matogrosso e outros talentos da arte do canto. Devido ao sucesso do espetáculo, apresentado no ano da morte de Vinicius, um ano depois surgiu a continuação: Arca de Noé 2, com poemas tão encantadores quanto os primeiros. E foi nessa segunda versão que o ator e compositor Grande Otelo apareceu em cena cantando “O Porquinho”, poema musicado por Toquinho com arranjos de Radamés Gnatalli. Com graça e deboche, Otelo dá vida ao porquinho esclarecido que canta com alegria pratos famosos da nossa culinária.

"E o Brasil vai de mansinho, se enchendo assim de mulatinho" Grande Otelo



Raphael Vidigal Aroeira

Lido na Rádio Itatiaia dia 24/10/2010.

2 comentários:

Alessandra Rezende disse...

Adorei como vc aproximou o cantor aos leitores quando mostrou como ele compôs a música "Praça Sete", apresentando o perfil das músicas dele!

NININHO-------OTELO disse...

GOSTEI DA MATERIA PARA CONTACTO E-MAIL: GRANDE OTHELOFILHO 21 090-2104

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