segunda-feira, 13 de dezembro de 2010




Noel de Medeiros Rosa, ou simplesmente Noel Rosa, completaria 100 anos de vida em 2010.
O poeta da Vila, como ficou conhecido por ter nascido, vivido e consagrado o bairro de Vila Isabel, no Rio de Janeiro, nasceu no dia 11 de dezembro de 1910, e faleceu no dia 4 de maio de 1937, vítima de uma tuberculose.
Noel Rosa foi um poeta jovem, que nos deixou antes de completar 27 anos.
Um poeta jovem que nos presenteou com todos os tipos de cantos.
O canto alegre, o canto triste, o canto que enfeitiçou a Vila e até hoje é sentido. O canto do samba rindo que canta a dama da Lapa e toda a dor que existe. Todo o amor que existe.



“Batuque é um privilégio
Ninguém aprende samba no colégio
Sambar é chorar de alegria
É sorrir de nostalgia
Dentro da melodia”








Para Noel, o samba foi uma espécie de melhor amigo.
Foi seu sentimento na voz da amiga Aracy de Almeida.
Um samba apaixonado, um samba de protesto.
Um samba que se equilibra na corda-bamba do amor que perde a batalha, mas não a guerra.
Um samba que é o amor em verso.



“A estrela d’alva
No céu desponta
E a lua anda tonta
Com tamanho esplendor
E as pastorinhas
Pra consolo da lua
Vão cantando na rua
Lindos versos de amor”


Noel Rosa é a conversa gostosa no botequim da esquina.
A dúvida na hora de escolher a melhor roupa para a festa fina.
O deboche em cima da Ilustre Visita que não poderia ser mais fingida e a disputa bem humorada e saudável com Wilson Batista.
Entre bebidas e cigarros, amores e seus altos e baixos, Noel Rosa é o poeta que coloca o samba no lugar mais alto da música popular brasileira.



“Quem é você que não sabe o que diz?
Meu Deus do Céu, que palpite infeliz!
Salve Estácio, Salgueiro, Mangueira
Oswaldo Cruz e Matriz
Que sempre souberam muito bem
Que a Vila não quer abafar ninguém
Só quer mostrar que faz samba também”








Pra quê mentir?
Se o samba sem Noel Rosa não seria o que é.
Noel Rosa é o Pierrô apaixonado, o malandro magoado.
É o povo a perguntar com maldade pela tal honestidade.
É o malandro de terno branco que une o morro ao asfalto.
Bebendo a sua cascatinha, fazendo batuque, choro e marchinha.
E ás vezes chorando por Ceci.



“Pra quê mentir?
Se tu ainda não tens esse dom de saber iludir?
Pra quê mentir?
Se não há necessidade de me trair?”


Noel faz do samba sua filosofia.
Sua voz ecoa pelos três apitos da fábrica de tecidos que buscam encontrar enfim a Dama do Cabaré.
Um palpite feliz é ouvir Noel Rosa, filósofo do samba!

“Quando o apito
Da fábrica de tecidos
Vem ferir os meus ouvidos
Eu me lembro de você
Mas você anda sem dúvidas bem zangada
E está interessada
Em fingir que não me vê”




Noel Rosa pega o samba no berço, carrega no colo e o leva ao seu lugar de merecimento.
Porque o samba não tem tradução no idioma francês.
O samba só tem tradução no idioma simples e refinado de Noel, poeta da sabedoria que morreu menino.
Poeta da sabedoria que fez do samba seu refrão mais bonito.
O último desejo é ouvir Noel Rosa, sambista de todos os desejos.



“Nosso amor que eu não esqueço
E que teve o seu começo
Numa festa de São João
Morre hoje sem foguete
Sem retrato e sem bilhete
Sem luar, sem violão”




Raphael Vidigal Aroeira

Lido na Rádio Itatiaia dia 12/12/2010.

2 comentários:

Anônimo disse...

Bom texto zim!!
Grande Noel.

André

Alessandra Rezende disse...

Adorei esse texto, meu bem!
Vc sempre escolhe palavras e ajeita as frases com uma suavidade encantadora! Parabéns!
Bjoss!

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