domingo, 12 de setembro de 2010



Quando nasceu aquele José na Paraíba, os traços nordestinos já prenunciavam que ele seria miudinho, de cabeça chata e pele morena, mas não prenunciavam que aquele José Gomes Filho se transformaria no Rei do Ritmo. Um pouquinho que ele cresceu, a cabeça achatou mais ainda e a pele escureceu devido ao sol que lhe queimava todos os dias e já começaram a chamá-lo de Jack, herói do cinema mudo americano que desembarcava no faroeste da Paraíba. A mãe não gostou nada daquela história, e enquanto cantava uns cocos aproveitava também para lhe bater e lhe passar aquele sermão: “Mas é danado mesmo, batizar um filho com nome de José e ver trocarem o nome assim pra Jack.” Mas não adiantou, foi só ele começar a se vestir com chapéu coco na cabeça achatada, inventar um caprichado bigodinho fino e segurar com mãos maliciosas o pandeiro, que lhe batizaram pela terceira e definitiva vez: Jackson do Pandeiro, rei de Alagoa Grande, rei da Paraíba, rei do ritmo do Brasil.



“Vixe como tem Zé
Zé de baixo, Zé de riba
Desconjuro com tanto Zé
Como tem Zé lá na Paraíba”

Ainda quando era chamado de Jack do Pandeiro, aquele paraibano miudinho do interior do estado rumou em direção à capital João Pessoa para formar com Rosil Cavalcanti a dupla “Café com Leite”, onde ele tocava violão e Rosil tocava pandeiro. Depois de um ano, Rosil foi para Recife e mais tarde para Campina Grande, onde tornaria-se famoso radialista e comandaria o programa “Forró do Zé Lagoa”. Jack também foi para Recife, e lá começou a trabalhar na Rádio Jornal do Comércio e a ser chamado pela primeira vez de Jackson do Pandeiro. Seria com este nome que ele cantaria os grandes sucessos da sua carreira, como “Sebastiana”, “Chiclete com banana”, “O canto da ema”, “Forró em limoeiro”, entre tantos outros, chegando a vender mais de 50 mil cópias em seu primeiro disco, gravado quando ele já tinha 35 anos de idade. Seria também com este nome que ele conheceria Almira Castilho, com quem trocaria alianças, declarações de amor, muita música e umbigadas em cima do palco.



“Que diferença da mulher o home tem?
Espera aí que eu vou dizer, meu bem
É que o home tem cabelo no peito
Tem o queixo cabeludo e a mulher não tem”

Inventivo e criando jeitos ágeis e novos de cantar as músicas, dividindo as palavras como só ele sabia, Jackson logo tornou-se sucesso no país inteiro.
Sua voz enjoada, seu pandeiro atrevido e sua malemolência que ele empregava como ninguém na forma de cantar todos os ritmos tornaram-se marca registrada e serviram de influência para cantores como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque, Gal Costa, Elba Ramalho e muitos outros que gravaram seus sucessos e lhe fizeram homenagens. Jackson do Pandeiro cantava de tudo e tocava pandeiro com a maestria de malandro nordestino que só ele tinha. Como ele dizia: “E sempre cantando. Cantando samba, cantando marcha de arrasta-pé, cantando coco, essa coisa toda.” Jackson do Pandeiro é essa coisa toda, esse Brasil inteiro, esse pandeiro que escorrega na mão, mas não perde sua majestade.



“Eu só boto be-bop no meu samba
Quando o Tio Sam tocar um tamborim
Quando ele pegar no pandeiro e no zabumba
Quando ele aprender que o samba não é rumba
Aí eu vou misturar Miami com Copacabana
Chiclete eu misturo com banana
E o meu samba vai ficar assim”

Raphael Vidigal Aroeira

2 comentários:

Alessandra Rezende disse...

"mto delicado o modo como aproximou Jackson do Pandeiro da gente! Vc conta um pouco de quem eles eram antes do sucesso... e acho isso mto bom. Sua doçura com as palavras e seu jeito simples melhoram ainda mais essa qualidade sua!
Perfeito, Raphael !!!!!

Beijoss!

Alessandra Rezende disse...

mais uma coisa...

adoro o jeito de vc fechar seus textos !!!
"esse pandeiro que escorrega na mão, mas não perde sua majestade"

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