segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011




Maria Creuza dos olhos fundos, brasileira, baiana, filha da poesia, querida do Poetinha. Romântica, abusada, nunca reprimida pela força do cantar que ultrapassa barreiras ideológicas, territoriais e de gênero. Maria Creuza na Esplanada, sonora. Maria Creuza, cantora. Não extingue admiração, há encantamento.

Você abusou

Maria Creuza conheceu Antônio Carlos na Bahia, e com ele estabeleceu casamento que ultrapassou as convicções musicais. Os dois tiveram três filhos e vários sucessos nas rádios do Brasil e do mundo, principalmente depois que migraram para o Rio de Janeiro. O primeiro grande êxito foi “Você abusou”, que Antônio Carlos compôs com Jocafi em 1971. O canto de Maria Creuza explicitava a beleza da composição que se esvairia de aspirações intelectuais. Ia direto ao coração.



Dom de iludir

Caetano Veloso se traveste de mulher para responder ao samba lamentoso de Noel Rosa. É a mulher que se defende das acusações do homem e apela à ele para que a deixe em paz, não mais a olhe, não a procure, não fale com ela. Maria Creuza cantou verso por verso da canção em 1976, com a habitual categoria.

Eu sei que vou te amar

Vinicius de Moraes foi apresentado a Maria Creuza em 1969, e a convidou para cantar com ele e Dori Caymmi no Uruguai. O Poetinha logo sem embeveceu pelos dotes musicais da cantora e passou a excursionar com ela e o compositor Toquinho por vários países europeus, onde os aplausos eram a tônica dos espetáculos. Dentre as muitas canções que Creuza gravou de Vinicius uma das mais belas foi “Eu sei que vou te amar”, parceria com Tom Jobim de 1959 que ganhou essa nova leitura em 1972, com o poeta recitando os versos em relevo de “Soneto de Fidelidade”. Uma preciosidade.



Onde anda você

Vinicius de Moraes e Hermano Silva procuravam em 1976 a moça que os deixara louco de tanto prazer. Até que encontraram em Maria Creuza a cantora exata para interpretar os versos, com a dose certa de leveza e emotividade.

Pouco importa

Maria Creuza sussurra a poesia derramada do samba-canção “Pouco importa”, do mestre da Mangueira, Cartola. Após a indiferença dos primeiros versos, vem a consagração erguida de um coração que superou ferimentos mesquinhos: “O ciúme e o desprezo são armas de dois gumes, quanto mais se degladiam, aumentam os queixumes, felizmente eu sou dotada de resignação, para não ferir meu coração”. Com o encerramento de um maravilhoso solo de saxofone.

Otália da Bahia

Uma música que não cita em nenhum momento o título. Essa foi a peripécia de Antônio Carlos e Jocafi ao comporem em 1976 a levada “Otália da Bahia”, com os irresistíveis versos “moça não merece medo, o amor quando não passa não merece medo, uma briga de pirraça não merece medo...” cantados por Maria Creuza.



Raphael Vidigal Aroeira

Lido na Rádio Itatiaia dia 27/02/2011.

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