segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011




Carmen Miranda e Aracy de Almeida enchem a cabeça da menina que enche garrafas de vinho. Logo ela está cantando em auditórios, rádios e discos. A Personalíssima Isaurinha Garcia não esqueceu as influências, mas legou identidade própria para a posteridade. Uma cantora de timbre refinado e interpretação emocionada. Com seu jeito próprio de cantar e emocionar. Isaura Garcia é Isaura Garcia, para quem se aproxima de sua melodia, logo já é Isaurinha.

Um imbatível sucesso de Isaura Garcia foi o samba “Mensagem”, de Aldo Cabral e Cícero Nunes, lançado em 1946. No enredo, a história de uma mulher que recebe do carteiro o alento de um antigo amor. “Quanta verdade tristonha, a mentira risonha, que uma carta nos traz, e assim pensando rasguei, tua carta e queimei, para não sofrer demais”, diziam os versos finais da canção que poderiam servir de fundo para o atribulado romance que a cantora viria a ter com o pianista e organista Walter Wanderley na década de 50.



Camisa listrada

Aos 19 anos, Isaurinha Garcia ganhou o primeiro lugar de um concurso de calouros promovido pelo programa Clube Quá-Quá-Quarenta, em que cantava “Camisa Listrada” de Assis Valente. Na música é possível perceber o desespero da mulher que vê o seu homem desfilar na avenida vestindo suas roupas, sua saia e sua combinação. A música é uma combinação entre alegria e tristeza, e mostra de forma debochada e simples o contraste entre a fantasia do homem que sai para se divertir e a preocupação da mulher que assiste àquilo com ares de repreensão.



De conversa em conversa

Lúcio Alves era ainda um garoto quando musicou aos 16 anos “De conversa em conversa”, com letra de Haroldo Barbosa. O samba impressionou Isaura Garcia, que resolveu regravá-lo com o mesmo conjunto que acompanhou Lúcio, “Os Namorados da Lua”, do qual o cantor fazia parte. Em 1947, a personalíssima emplacava mais um sucesso, e dali a 6 anos, em 1953 era eleita a Primeira Rainha do Rádio Paulista, configurando-se como ícone da cidade.

Teleco-teco

Um samba de 1942 de letra inspirada, levada gostosa e espírito carnavalesco foi “Teleco-teco”, de Murilo Caldas e Marino Pinto que Isaurinha Garcia cantou com deliciosa interpretação. A música faz referência a um grande sucesso da época, “Praça Onze”, de Herivelto Martins e Grande Otelo, e reflete o desgosto da mulher que não se contenta com as estripulias do marido no carnaval, mas depois de um carinho não resiste a seus encantos.

E daí?

Em 1959 a bossa nova ganhava espaço de vez no cenário brasileiro, e uma das primeiras músicas do gênero foi composta por Miguel Gustavo, com o título de “E daí?”. A temática era um amor proibido que se fortalecia diante das dificuldades impostas. Isaura Garcia a lançava 20 anos depois de ser contratada pela Rádio Record e formar dupla com Vassourinha, um mulato cheio de bossa que se foi cedo para um outro mundo.



Raphael Vidigal Aroeira

Lido na Rádio Itatiaia dia 27/02/2011.

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